Ainda na cama, abraçada com ele, olhou pela janela e viu, do
alto daqueles incontáveis andares, toda a extensão da cidade, como se fosse uma
miniatura iluminada por milhares de micro lâmpadas.
Ficou tão fascinada com a escuridão da noite riscada por
aqueles minúsculos raios de luz que se desvencilhou dos braços dele, com
cuidado, e parou na frente da janela, que ia do chão ao teto.
Pensou em tirar uma foto, mas jamais reproduziria o mesmo
inacreditável frame de filme.
Era mesmo como num filme.
Um filme colorido à mão.
“Agora eu vejo em technicolor”, disse ela. Afinal, no
automatismo do dia a dia, tudo parece cinza.
Olhou para cama e ele ainda dormia, ressonando
delicadamente. Como se fosse suspiros em estado de sonho. Ainda vestia sua
camisa floral. Talvez ele estivesse realmente sonhando.
Ela voltou a olhar pela janela e imaginou seus passos por
aquelas mini ruas.
Os passos que a fizeram sair de casa para se encontrar com
ele, ainda dia.
Os passos que a fizeram entrar no transporte coletivo,
exausta de calor.
Os passos que a fizeram descer no ponto devido e caminhar
ladeira acima.
Os passos que a fizeram dobrar a esquina e o avistar,
esperando por ela.
Os passos que conduziram os dois até aquele quarto onde,
agora, observa a noite iluminada.
Mas os passos também a levaram para a realidade.
Voltou para a cama e se encaixou novamente no abraço dele.
E acordou.
Tudo não passou de um sonho. Para ter certeza, olhou para a
janela, que não era a mesma, e a única coisa que avistou foi a parede do prédio
em frente.
Mas a sensação de frame cinematográfico ainda enchia o
ambiente, como se tivesse saído do ar condicionado e se espalhado.
Olhou para ele e dormiu mais uma vez. Talvez sonhasse.
18/8/2015
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