Trilha inicial: https://www.youtube.com/watch?v=2X5Dr-uFVGw
Bia chegou em casa depois de beber duas cervejas. O tremor
do café havia passado, porém ficara mais uma frustração por voltar pra casa sem
receber um beijo na boca que fosse. Nesse caso a culpa era dela própria. Bia
não quis.
Não podia afirmar que ele estava afim, mas achou que sim.
Logo depois chegou Marcela. Ambas sem beijo. A diferença é
que Marcela queria, e muito.
Marcela pegou o telefone e jogou a bolsinha pro lado. Enviou
uma mensagem para Henrique.
Marcela: Já em casa.
Marcela: Adorei a Cia!
Marcela: Espero que tenha curtido o turismo, apesar da chuva
haha
Henrique: aae
Henrique: também adorei <333 p="">
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Henrique: vc é muito linda
Henrique :D
Marcela: hahaha confesso que quis te dar um beijo, mas acho
que não sou ousada o suficiente
Henrique: eu tb
Henrique: Vamos ousar amanhã então
Marcela: Vamos sim ^^
Marcela: Tenha uma boa noite :*
Henrique: Beijo!
Mesmo sem beijo alguém ia dormir faceira naquele
apartamento.
Bia não havia desistido de seu propósito. Pegou seu telefone
e começou a ~mapear o Tinder. Nada de muito interessante, porém um último match
foi bem razoável antes da mensagem “não há ninguém perto de você” aparecer.
Não demorou muito e o novo contato já mandou um oi.
***
Trilha final: https://www.youtube.com/watch?v=ZdVM6zoN0oQ
Tina olhou por horas a mensagem de Rafael no Tinder. Já não
olhava pra ela com tanto ódio, mas com saudades.
Odiava sentir saudades de Rafael, odiava reconhecer o fato
de que queria falar com ele, de responder aquela mensagem e que tudo ficasse
bem. Odiava constatar que ele estava lindo na nova foto de perfil nas redes
sociais. Odiava.
Odiava, acima de tudo, o sentimento de recuperar o tempo
perdido. Mas “recuperar o tempo perdido” é um erro. Não dá pra repor os dias
que passaram, como se fosse refil de refrigerante ou de creme para o rosto da
Natura.
E nem dá pra substituir as coisas que foram ditas.
- Será que dá pra esquecer? – Perguntou para o espelho, seu
fiel conselheiro.
Mas o espelho nada disse. Se pudesse falar, ele diria que
não, não dá pra esquecer coisas que foram ditas e que feriram. Mas quem sabe
fosse possível lidar com isso.
E com essas palavras imaginárias na cabeça, Tina tomou um
banho demorado, passou perfume, escolheu um vestido bem despojado, pegou a
bolsinha transversal e saiu de casa.
Estava determinada a esclarecer as coisas com Rafael. Mesmo
que fosse para se libertar dele para sempre.
Conforme caminhava pela rua (dessa vez não foi correndo,
queria manter a integridade física e evitar chegar suada), repassava um
discurso pré-pronto na cabeça que parecia texto feito para orelha de algum
livro de autoajuda.
Dobrou a esquina e avistou o prédio de Rafael. A janelinha
do seu apartamento estava iluminada. Ele estava em casa, como ficava sempre nas
sextas-feiras.
“Meu Deus eu não sei o que tá “contesseno” com a minha
vida!”, pensou Tina.
Tocou o interfone. A última vez que fez isso xingou a mãe de
Thiago. Lembrou de Thiago e sentiu-se mal, pensou em desistir, em voltar pra
casa e tomar uma dose de sensatez e ficar com quem não havia sido um otário.
Mas Tina havia nascido para fazer papel de trouxa, o
suficiente para comprometer muitas árvores.
Desistiu de voltar quando a voz de Rafael disse para subir.
Entrou no elevador e se olhou no espelho. Aquele não era seu
amigo, por isso não podia lhe dar conselhos. Procurou no seu próprio reflexo
algum traço de lucidez. Não encontrou.
Naquela noite, Tina iria transar com Rafael como se não
existisse amanhã. Sua mente confusa iria atrapalhar o caminho do raciocínio,
deixando o coração agir como uma criança cheia de vontades.
Parece que amar é isso. É passar por cima de muitos
princípios ditos irrefutáveis, esquecer o orgulho e ceder. Para muitos isso é
ser tolo, ou até ser fraco. Mas só quem tá no contexto entende.
Por isso Tina não pensou duas vezes quando Rafael abriu a
porta. Estava admitindo a si mesma que ainda havia conexão com ele e, portanto,
o seu sinal amoroso ainda a faria navegar por aquelas ondas que já conhecia.
A vida é assim mesmo.
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