Trilha inicial: https://www.youtube.com/watch?v=niGt6fhwMtA
Bia se preparava para um novo date. Não, não iria desistir,
estava obstinada a sair com quantos homens fosse preciso. Pois em sua cabeça,
água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Nem que precisasse fazer algum
feitiço.
“hahahahahah”
Riu sozinha. Mas era verdade, precisava esgotar as
possibilidades, filtrar o destino, apostar na casualidade. Sim, tudo ao mesmo
tempo.
Naquele fim de tarde, enquanto Marcela mostrava o centro da
cidade para Henrique, iria encontrar Ronaldo. Obviamente mais um candidato que
surgiu por meios digitais.
Havia tentado sair com ele algumas vezes, mas nunca dava
certo. Até que os dois encontraram tempo disponível.
Foram em um lugar novo, um café todo pintado de rosa. A atração
era o refil de café. Durante uma hora, o cliente bebia quanto café passado no
coadorzinho conseguisse, igual ao refrigerante free no Burguer King.
Bia adorava café, então ao menos teria algo de bom garantido
se o date não funcionasse.
Chegou primeiro e escolheu uma mesinha no centro. Havia
pouca gente no lugar, seriam atendidos rapidamente.
Ronaldo chegou em seguida. Viu quando ele parou na porta,
conversando com uma amiga que o acompanhou pelo caminho. Ajeitou o cabelo com
as velhas e boas amassadinhas, olhou rapidinho pela câmera frontal do celular para
confirmar que estava apresentável e esticou a coluna.
- Oi, tudo bem? – falou ele – Até que enfim!!
- Não é? Agora foi haha.
Xícara de café #1
Ronaldo contou coisas sobre o seu trabalho, o que até então
Bia não sabia muito. Ela, por sua vez, relatou histórias de sua profissão.
Ele era atencioso na maior parte do tempo. De vez em quando
parava para responder alguém no celular. Não sabia se era outra mulher ou
alguém do trabalho, mas não importava, era só um date.
Xícara de café #2
Bia estava de estômago vazio e sentiu a segunda xícara de
café provocar uma leve queimação. Mas não deu importância. Ao menos não teria
sono. E nem ele, porque bebia a mesma quantidade.
Xícara de café #3
A queimação estomacal foi embora, mas Bia sentia cada célula
de seu corpo viva. Era como se todas estivessem interagindo com o seu date. Era
como se cada uma delas tivesse a própria xicarazinha de café.
Xícara de café #4
Essa era a expressão de Bia:
(>O.O)>
Xícara de café #5
Bia havia bebido tanto café, mas tanto, que tremia como se
tivesse Parkinson. Deu graças a Deus que ele sugeriu irem embora.
- Vamos beber uma cerveja?
- To to-po.
Topou, sem saber até onde aquilo podia ser bom ou ruim.
***
Trilha final: https://www.youtube.com/watch?v=F9nqM_Zq_0k
Marcela levou Henrique em uma exposição no centro da cidade.
Nada de bonito, apenas para conhecer o prédio, que tinha uma arquitetura incrível.
Queria que ele visse o pôr do sol, mas ainda faltava um
tempinho, então pararam no caminho para tomar um café. O lugar era repleto de
imagens sacras. Sentiu-se observada, não como se fosse em uma igreja, pois a
última vez que pisou em uma foi na primeira comunhão, talvez.
Henrique falava muitas coisas, nas quais Marcela não
prestava a menor atenção. Queria beijar o garoto. Beijar muito mesmo, de ficar
com a boca assada.
“Ai que horror parece que nunca beijei na vida”, pensou.
Era uma vontade incontrolável.
Porém até o momento Henrique não havia demonstrado o menor
pingo de reciprocidade. Ficou imaginando sua cara olhando pra ele, e a melhor
imagem que buscou no seu arquivo mental foi essa:
O sol arriscou espiar por entre as nuvens, daria tempo de
vê-lo se despedindo do céu. Pagou o café de Henrique, por uma gentileza, e
foram para a rua.
Por um breve momento Marcela achou que Henrique a observava
com desejo. Mas preferiu ceifar a própria expectativa, afinal, pelo seu
histórico de vida, era mais fácil acreditar que ele voltaria para casa como seu
melhor amigo. Estava muito distante de Henrique, mas ao mesmo tempo mais
próxima do que muitos homens com quem se relacionou.
Não deu tempo de ver o sol ir embora. Começava a ficar
escuro, e o coração de Marcela palpitava numa ansiedade ainda contida. Como se
fosse jovem novamente.
Eles voltaram pelo mesmo caminho, e naquela noite, chegaria
em casa sem ter sido beijada, mas ainda assim, levemente satisfeita por ter
tido um dia tão correto e repleto de atenção.
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