domingo, 29 de novembro de 2015

Amores Wi-Fi - Temporada 6 Episódio 8: “Che-guei Marcela!!”







Henrique mandou uma mensagem para Marcela no whatsapp, bem cedo.

Henrique: Che-guei Marcela!!

Marcela sentiu um frio percorrer seu corpo. Ficou nervosa, era estranho conhecer alguém ao vivo depois de uma certa intimidade virtual. Não era como se fossem apenas se rever, sensação esperada entre quem muito já conversou. Era como um novo processo. Iriam se conhecer do zero, foi assim que se sentiu.

Chovia torrencialmente. Marcela ficou de encontrá-lo para almoçar, chegaria na recepção do hotel encharcada. “Meu Deus e se eu pegar uma cistite”, pensou. E riu, sempre pensava nessas coisas.

Havia dado um trato no cabelo, mas no fim não gostou do resultado, e sentiu-se feia. Não que esperasse alguma coisa de Henrique. Mentira, esperava sim. Pelo menos um beijo na boca, ah se esperava isso!

O horário marcado se aproximava. Marcela sentiu dor de barriga. Nem parecia mulher feita. Saiu da empresa a pé, mesmo chovendo o equivalente a um dilúvio, pois era perto demais pra pegar táxi (que naquele tempo horrível seria impossível conseguir de qualquer jeito).

Desceu uma lomba se equilibrando nos tênis All Star escorregadios, enquanto segurava a enorme sombrinha e sua bolsa, agarrada no peito para não molhar. Ficou ensaiando mentalmente coisas para dizer e parecer descolada, mas tudo soava uma bosta.

Melhor nem tentar nada.

Dobrou a próxima esquina e avistou o hotelzinho de janelinhas amarelas. “Me acode aqui Jesus, nunca te pedi nada!!”, implorou. Tocou o interfone e uma voz com sotaque castelhano perguntou: “¿que quieres?”, e Marcela enrolou a língua de nervosa “vim vê o hóspede Henrique”.

A portinha abriu, e se deu conta que o volume era alto o suficiente para que quem estivesse na salinha escutasse sua fala cagada. Inclusive Henrique, que a esperava, lindo, vestindo um casaquinho preto e calça jeans.

A primeira reação foi abraçá-lo, e perguntar:

- Você não está com frio?

- Não, tô de boa!

Trocaram mais algumas palavras, ainda de forma mecânica, e saíram para almoçar. Por conta da chuva decidiram ir num buffet de quilo ali perto.

Escolheram uma mesa e foram se servir. Apesar da fome Marcela não conseguiu comer muito, estava nervosa. “Meu Deus Henrique tem voz de locutor de rádio”, pensava ela, já totalmente envolvida.

A única coisa que a tirou de seu estado de alucinação foi mordedor. Enquanto ela aparentemente se derretia por Henrique, o seu ex caso entrou no restaurante.

Ficou mais gelada, nível hipotermia. “Minha Nossa Senhora dos Potinhos Não Devolvidos me ajuda!”

Ele finalmente olhou em sua direção e a cumprimentou, educadamente. Vestia um blazer de veludo que o deixou muito bonito. Respondeu ao cumprimento e o observou por uns segundos. Mas logo a voz de Henrique lhe devolveu para o encanto inicial.

Não soube dizer se mordedor reparou no clima afetivo que se encontrava em sua mesa. Na verdade, por enquanto apenas da parte dela, porque Henrique estava agindo como um amigo. Mas mesmo assim sentiu-se envergonhada.

Olhou pela janela e a chuva havia parado.

- Que tal visitarmos alguns pontos turísticos no centro?


E assim foram, a pé, desviando de poças de água.

Marcela já conhecia bem aquela sensação. Lembrou do príncipe passageiro. Por isso evitou criar expectativas demais, por saber que em alguns dias Henrique iria embora e ficaria na sofrência típica de quem apenas está carente.

Porém era tarde. Sem admitir Marcela estava mesmo envolvida. Não como quem está apaixonada, mas... não saberia dizer como.

Enquanto caminhavam, Marcela podia ouvir trilhas musicais românticas em sua cabeça. Odiava quando isso acontecia. Mas também representava um alívio – mesmo que passageiro – em seu histórico de gente que não presta.

Enquanto o céu parecia dar uma trégua na água derramada, Marcela fingiu escutar o canto dos passarinhos, um arco-íris despontando nas nuvens e borboletas voando ao seu redor. Sentiu vontade de segurar na mão de Henrique, mas se contentou em apenas sentar-se do seu lado no ônibus e fingir que ele não reparava nas mulheres bonitas que passavam por eles.


Apesar da tempestade, estava sendo um lindo dia. 


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