segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Amores Wi-Fi - Temporada 6 Episódio 12: Amores de Mundo Real




Bia tentava reconhecer os vultos masculinos que se aproximavam ao longe. Mas não tinha certeza da direção que Alison viria. Só sabia que ele morava ali perto. É que gostaria de passar uma imagem natural e ao mesmo tempo lindamente construída.

Por exemplo, não queria estar largada na cadeira, nem com cara de ansiosa. Queria estar com a coluna reta, o olhar sereno, segura de si. Mas nada disso seria possível na calçada de um buteco barato.

Até que viu um homem alto se aproximando, vindo em sua direção. Pelo tamanho da barba reconheceu Alison. Vestia negro da cabeça aos pés, temeu ser um desses góticos dos anos 2000.

“Ai meu Deus, o que eu faço?”

Mas apesar do detalhe ele era bonito. Um homem enorme, com uma bela barba e um olhar que parecia decifrar até os pensamentos que ainda não havia tido (concluiu isso só quando ele chegou bem perto, claro).

Ele a cumprimentou e começaram a conversar. Alison falava muito. E não deixava Bia ficar quieta, o que gostou.

Enquanto bebericavam cerveja barata, ele contava sobre a sua vida.

E aos poucos, Alison se relevou a pessoa mais esclarecida que já havia conversado.

Alison contou que vivia em um relacionamento aberto com uma mulher, que tinha uma filha pequena de um relacionamento anterior, mas que também sentia atração por homens.

- O que eu prezo, na verdade, é a atração. Não me importa se é homem ou mulher. Não ligo para o gênero. Pode ser até transexual. Me importo é com as coisas boas que eu sinto.

Disse ele.

De início Bia ficou um pouco surpresa, até mesmo chocada. Fingiu achar normal para sentir-se descolada diante de Alison, mas a verdade é que, conforme o assunto avançava, mais ela compreendia aquele ponto de vista.

Não que fosse sair dali e arrumar relacionamento com uma mulher (o que não seria problema se realmente desejasse), mas começou a se questionar a forma como os relacionamentos funcionavam.

Lhe pareceu que a sociedade ainda vivia encaixada no modelo de homem perfeito para cada mulher. Ninguém precisa ser perfeito pra ninguém. E nem precisa ser homem com mulher.

Um lampejo de claridade rachou sua cabeça. Mas também porque estava um pouco bêbada depois de algumas cervejas. “O que aconteceu com o príncipe e a Cinderela?”, pensou.

- O que acha de bebermos mais umas cervejas lá em casa? Podemos comprar umas diferentes.

- Acho ótimo!

Disse Bia, segurando-se na hora de levantar da cadeira para não cair.

***


Marcela e Henrique chegaram no café. Ainda estava sob efeito do beijo.

Queria que Henrique tivesse um pouco das experiências que ela mais valorizava, como por exemplo, estar nos lugares em que ela se sentia em casa.

Enquanto ele comia a tortinha de doce de leite que escolheu no balcão, só pensava na hora de ir para o bar, tomar uns bons drinks e conseguir ter cara de pau para propor sexo.

Sim, Marcela queria fazer muito sexo com Henrique. Mas tinha um trato com Bia de que não levariam mais homens para o apartamento por medo de serem assaltadas. E como Henrique estava em um hotel com quarto compartilhado, não teriam privacidade lá. Ou seja, restava ir de táxi para um motel.

Lembrou que uma vez havia passado por essa situação embaraçosa. O senhorzinho motorista do táxi deveria estar acostumado, mas ainda assim sentiu-se envergonhada. Ele os deixou na porta da garagem e pronto. Subiu com o rapaz e fez o que tinha que fazer.

Na hora de irem embora saíram a pé. Marcela desejou ter um lenço de Tieta para enrolar na cara. Ainda bem que era noite, assim a chance de ser reconhecida caiu consideravelmente.

Não queria propor a mesma situação para Henrique. Ficaria caladinha. “Mas se ele sugerir, ah, eu não pensarei duas vezes em aceitar!”

Não, não estava louca. Em todas as vezes que tentou racionalizar o que sentia, concluiu que sentia por Henrique um tipo amor. Porém com tempo certo para acabar.

***


Bia e Alison passaram em um mercadinho para comprar as tais cervejas e foram para o apartamento. Quando entrou, sentiu-se em um atelier daqueles jovens artistas de filme, mas estava bêbada, apenas.

Quadros inacabados dividiam espaço com latas de tinta, telas em branco e objetos de decoração. Pediu para ir ao banheiro, enquanto ele colocava alguma playlist no computador.

Do banheiro ouviu a música. “Que bom, assim ele não ouve o barulho do meu xixi”, pensou.

Quando saiu foi ao quarto. Ele havia aberto a porta de uma sacadinha, onde havia uma rede. Sentou-se ali. Odiava sentar em rede, se sentia como aquelas vaquinhas de plástico que se contorciam toda ao apertar o botãozinho.

Abriu a cerveja enquanto Alison fumava um baseado e continuava com suas histórias afetivas.

De repente Bia se sentiu triste. Pois percebeu que por mais que ganhasse um bônus de mais 100 anos de vida, não conseguiria viver nada de forma tão intensa quanto Alison.

Em determinado momento achou que o grande objetivo dele era sondá-la para a possibilidade de sexo a três com sua namorada.

“Será????”

Bia não julgou a possível tentativa, mas certamente não estava pronta para uma experiência dessas.

A bebida acabou, a conversa avançou e o tempo também. Olhou no relógio e lembrou que precisava ir pra casa assistir Xuxa na Record.

Ele se prontificou a lhe acompanhar até o ponto de táxi. Bia estava tão inebriada com as revelações que nem lembrou que não havia sido beijada.

Mas no elevador o beijo aconteceu. Rápido, porém muito bom.

Foi embora com o gosto da vivência de Alison na boca. Não falaria mais com ele, nem mais o veria, por motivos naturais do cotidiano, até um encontro casual na saída de uma festa.

Sentia-se, naquele momento, um passarinho preso na gaiola.



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