segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Amores Wi-Fi - Temporada 6 Episódio 14: É Hoje!





Naquela tarde abafada, em casa, Tina continuava lutando contra a presença de Rafael. Ignorava cada mensagem sua no whatsapp, como se isso pudesse fazer esquecê-lo.

Mais um dia triste.

Tina, às vezes, escorregava chorando na porta e também no bom senso, quando desabafava seus desamores nas redes sociais.

Abriu o Facebook e escreveu:

“Tentei evitar, tentei esquecer tudo que me lembra você, me olho no espelho e tento me reconhecer.”

Porém aquilo era apenas trecho de uma música cafona que estava ouvindo.

Ninguém curtiu ou comentou. Estava mais desaplaudida do que nunca.

Já sentindo que não tinha mais forças, Tina resolveu fazer o papel de trouxa por completo. Se era pra ser trouxa, que fosse trouxa perto de Rafael.

- Ah espelho, por que você não fala comigo? Por que não briga comigo? Eu só queria alguém pra me ouvir, me ajudar. Todo mundo tá ocupado pra mim...

Aquele drama todo nem tinha razão de ser.

Estava apenas fragilizada, e querendo encontrar, de última hora, um pretexto para não ir atrás de Rafael. Ele existia, e se chamava Thiago. Mas não deu importância.

Em poucas horas Tina estaria tocando novamente o interfone do prédio de Rafael, o seu maior amor de adolescência. Estaria relembrando novamente de todas as vezes que desejou ficar com ele, de quando ficou, e de quando quis ficar mais uma vez.

A vida, para Tina, era uma repetição de fatos, em ciclos pouco interessantes.

Tanto é que, passado tanto tempo, ainda sentia, muitas vezes, a mesma desorientação, a mesma ansiedade, o mesmo pânico juvenil diante da vida.

Tina era, em parte, uma adolescente enrustida.

- Mas eu melhorei muito, espelho, melhorei...

Sim, o espelho haveria de concordar. E para provar a sua maturidade, saiu dançando pelada pelo quarto para tentar desopilar.

***


Marcela estava sentada na grama enquanto Henrique tirava fotos. Afinal, a praça onde estavam era muito bonita, e as famílias levavam toalhas de piquenique e cestas com guloseimas para passar as tardes no final de semana.

- Eu nunca fiz piquenique, sabia?

- Disse Henrique.

- Como assim, nunca?

- Pois é, nunca fiz. Nunca ninguém me levou.

Marcela sentiu um carinho imenso e uma certa pena pela forma como Henrique falou do piquenique. Parecia um menino que não ganhou o que pediu no Natal. Iria pensar numa forma de fazer um para ele, antes dele voltar para casa.

Enquanto isso, sentada sobre o próprio casaco, observava o moço fotografando árvores, prédios próximos e até ela própria, e pensava: “que homem”.

Talvez fosse exagero de sua parte, carência, quem sabe. Mas estava encantada.

De vez em quando ele parava com as fotos e lhe beijava, e para ela era suficiente. Mesmo que ainda estivesse querendo levá-lo pra cama. Iria arrumar uma forma de dizer.

- Henrique, hoje tem aniversário de um amigo. Podemos jantar e depois irmos para a festa, o que acha?

- Acho ótimo, estava querendo mesmo conhecer a noite daqui.

Não lembrava de uma vez sequer quando namorava com Romeu, seu último relacionamento, de ter tido momentos tão delicados. Pelo contrário. Era tudo feito na base de uma certa rispidez que até sentia um certo apreço no início, mas que depois caiu na vala comum, assim como a relação em si.

Afastou os pensamentos sobre Romeu, que não merecia estar ali.

Abraçou Henrique por uns momentos e sugeriu que fossem para uma pizzaria que adorava frequentar.

***


Mais tarde, em casa, Tina tomava um de seus banhos preparatórios para aquela que seria a noite divisora de águas na sua vida.

Irritada com o espelho mandou ele ir se fuder, estava cansada de ser ignorada.

Se achou gata e saiu, cantarolando pela rua, enquanto a noite caía. Estava mais confiante de sua decisão, porém com um aperto no peito, afinal, qualquer mudança trazia consigo o medo do fracasso.


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