Trilha
inicial: https://www.youtube.com/watch?v=Sru-CmKZQZQ
Naquela tarde
abafada, em casa, Tina continuava lutando contra a presença de Rafael. Ignorava
cada mensagem sua no whatsapp, como se isso pudesse fazer esquecê-lo.
Mais um dia
triste.
Tina, às
vezes, escorregava chorando na porta e também no bom senso, quando desabafava
seus desamores nas redes sociais.
Abriu o
Facebook e escreveu:
“Tentei evitar, tentei esquecer tudo que me lembra você, me
olho no espelho e tento me reconhecer.”
Porém aquilo era apenas trecho de uma música cafona que
estava ouvindo.
Ninguém
curtiu ou comentou. Estava mais desaplaudida do que nunca.
Já sentindo
que não tinha mais forças, Tina resolveu fazer o papel de trouxa por completo.
Se era pra ser trouxa, que fosse trouxa perto de Rafael.
- Ah espelho,
por que você não fala comigo? Por que não briga comigo? Eu só queria alguém pra
me ouvir, me ajudar. Todo mundo tá ocupado pra mim...
Aquele drama
todo nem tinha razão de ser.
Estava apenas
fragilizada, e querendo encontrar, de última hora, um pretexto para não ir
atrás de Rafael. Ele existia, e se chamava Thiago. Mas não deu importância.
Em poucas
horas Tina estaria tocando novamente o interfone do prédio de Rafael, o seu
maior amor de adolescência. Estaria relembrando novamente de todas as vezes que
desejou ficar com ele, de quando ficou, e de quando quis ficar mais uma vez.
A vida, para
Tina, era uma repetição de fatos, em ciclos pouco interessantes.
Tanto é que,
passado tanto tempo, ainda sentia, muitas vezes, a mesma desorientação, a mesma
ansiedade, o mesmo pânico juvenil diante da vida.
Tina era, em
parte, uma adolescente enrustida.
- Mas eu
melhorei muito, espelho, melhorei...
Sim, o
espelho haveria de concordar. E para provar a sua maturidade, saiu dançando
pelada pelo quarto para tentar desopilar.
***
Trilha desta
cena: https://www.youtube.com/watch?v=1KS4whXy_Jk
Marcela
estava sentada na grama enquanto Henrique tirava fotos. Afinal, a praça onde
estavam era muito bonita, e as famílias levavam toalhas de piquenique e cestas
com guloseimas para passar as tardes no final de semana.
- Eu nunca
fiz piquenique, sabia?
- Disse
Henrique.
- Como assim,
nunca?
- Pois é,
nunca fiz. Nunca ninguém me levou.
Marcela
sentiu um carinho imenso e uma certa pena pela forma como Henrique falou do
piquenique. Parecia um menino que não ganhou o que pediu no Natal. Iria pensar
numa forma de fazer um para ele, antes dele voltar para casa.
Enquanto
isso, sentada sobre o próprio casaco, observava o moço fotografando árvores,
prédios próximos e até ela própria, e pensava: “que homem”.
Talvez fosse
exagero de sua parte, carência, quem sabe. Mas estava encantada.
De vez em
quando ele parava com as fotos e lhe beijava, e para ela era suficiente. Mesmo
que ainda estivesse querendo levá-lo pra cama. Iria arrumar uma forma de dizer.
- Henrique,
hoje tem aniversário de um amigo. Podemos jantar e depois irmos para a festa, o
que acha?
- Acho ótimo,
estava querendo mesmo conhecer a noite daqui.
Não lembrava
de uma vez sequer quando namorava com Romeu, seu último relacionamento, de ter
tido momentos tão delicados. Pelo contrário. Era tudo feito na base de uma
certa rispidez que até sentia um certo apreço no início, mas que depois caiu na
vala comum, assim como a relação em si.
Afastou os
pensamentos sobre Romeu, que não merecia estar ali.
Abraçou
Henrique por uns momentos e sugeriu que fossem para uma pizzaria que adorava
frequentar.
***
Trilha final:
https://www.youtube.com/watch?v=Rvq7R9dwJ3U
Mais tarde,
em casa, Tina tomava um de seus banhos preparatórios para aquela que seria a
noite divisora de águas na sua vida.
Irritada com
o espelho mandou ele ir se fuder, estava cansada de ser ignorada.
Se achou gata
e saiu, cantarolando pela rua, enquanto a noite caía. Estava mais confiante de
sua decisão, porém com um aperto no peito, afinal, qualquer mudança trazia
consigo o medo do fracasso.
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