Trilha
inicial: https://www.youtube.com/watch?v=8N-qO3sPMjc
Marcela abriu a boca para falar e disse:
- Que calor né?
Não teve coragem de dizer QUERO TRANSAR COM VOCÊ. Pra não
ficar perdida no comentário idiota sobre o clima, falou:
- Me dá um beijo?
E Henrique a beijou. Ali mesmo, na salinha do hotel.
Se sentiu aquela menina que um dia teve medo do que poderia
existir dentro da cueca de um homem.
E quando conheceu o que tinha dentro da cueca de um homem (e
gostou), passou a ter medo do que tinha dentro de um homem.
Na maioria das vezes não era coisa muito boa.
Havia muito egocentrismo, más intenções e até inseguranças.
E tudo se revertia em um comportamento que afetava quem não devia. No caso, as
mulheres.
Será que Henrique tinha medos? Será que ele sentia a mesma
vontade que ela? Será que estava inseguro?
Não tinha como saber, ao menos não naquele momento. Marcela
guardou o presentinho e foram pra rua.
“Meu Deus, amanhã é o último dia de Henrique aqui!”, pensou,
entristecida.
E antes de ficar mais triste o puxou pra rua. O dia estava
bonito, a chuva não mais caía e precisava curtir o tempo que tinha. Henrique
queria visitar um museu, e assim foi a tarde, circulando entre paredes quase
despidas, ostentando apenas retratos indecifráveis.
***
Trilha desta cena: https://www.youtube.com/watch?v=VV1XWJN3nJo
Tina conseguiu sair da cama com muito esforço para não
acordar Rafael.
Foi ao banheiro, jogou água na cara, borrando o resto de
maquiagem, e se vestiu. Pensou em deixar um bilhete, mas não tinha nada pra
dizer naquela hora.
Nem sabia o que teria pra dizer, porque, na verdade, nem
sabia o que queria direito. Só queria dançar nua, mas estava na rua e não
pegaria bem.
Pegou o celular e mandou mensagem no grupinho das meninas.
Tina: Oi meninas, tudo bem?
Tina: Eu estou com saudades, e mais do que isso, tô
apavorada.
Tina: Queria ver vocês.
Bia: Ô mulher, que foi? Quer almoçar comigo?
E assim aconteceu uma meia convenção de bruxas.
Tina relatou todo o seu dilema, desde a primeira recaída com
Rafael. Bia ouvia tudo com atenção, e pensava que, na verdade, não poderia ser
a pessoa mais indicada para abordar o assunto, pois vasculhando seu histórico
escolar dos romances, havia nota zero por falta de frequência na disciplina
Relacionamentos Duradouros.
Na escola amorosa, Bia era a aluna que sempre chegava
atrasada. E quando entrava na sala de aula, nunca entendia a matéria. Nas
provas que teve não sabia como responder perguntas que eram feitas. Nos testes
de última hora às vezes se dava bem, porém por conta do improviso.
Na escola amorosa, Bia foi aquela que tentava copiar as
respostas dos outros, pois achava que tudo era uma fórmula que podia ser
aplicada em várias situações. Por isso que, depois da escola amorosa, Bia foi
reprovada no Enem do Amor. Por isso está empacada, sem rumo. Chegou atrasada na
prova principal.
Mas ainda havia tempo, nem que precisasse cursar um EJA
relâmpago.
Já Tina era a bagunceira da turma da mesma escola, mas
aprendia bem as lições. Porém havia algum transtorno de atenção que não lhe
deixava aplicar de forma correta o que aprendia.
E estavam as duas ali, alunas repetentes, com suas notas
vermelhas no boletim, tentando achar uma resposta para as múltiplas escolhas.
- Eu acho, Tina, que você precisa avaliar você mesma. Se
você não tiver certeza do que quer, não poderá fazer nada.
- O mesmo vale para você, né?
- Sim, vale mesmo.
E brindaram com cerveja.
***
Trilha final: https://www.youtube.com/watch?v=VUodwTf8JJw
Talvez Marcela também precisasse de um desempenho melhor na
mesma escola que as meninas. Estava novamente insegura.
Saíram do museu e foram para um bar no bairro boêmio. Estavam
bebericando e conversando, quando duas moças passaram distribuindo
preservativos com sabor de fruta.
Fora o lance ridículo do sabor, era o momento perfeito para
cair nos braços do homem.
Os dois se olharam, riram e continuaram conversando.
Viu que sua oportunidade estava indo embora, pois no outro
dia, durante a tarde, iriam se despedir. Henrique voltaria para casa.
Porém não estava lamentando mais. A insegurança desapareceu
com o último gole da bebida.
Percebeu que talvez fosse bom não ultrapassar certas
fronteiras. “Afinal, eu tenho convicção de que poderia me envolver, e não
posso”, concluiu.
Ou quem sabe o único problema fosse o fato de também ter ido
mal na mesma escola das suas amigas. E faltou na disciplina que ensinava a
derrubar as próprias barreiras.
Era assim que Marcela se sentia quando estava prestes a se
superar: (clique aqui)
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