quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Amores Wi-Fi - Temporada 6 Episódio 16: Acordou Pra Vida







Entre copos quebrados, mesas derrubadas e gente pisoteada, Marcela agarrou o braço de Henrique e correu para dentro do bar. Não deu tempo de ver para onde Bia e os outros amigos foram, tamanho era o pânico.

A sucessão de tiros cessou, e dentro do bar o clima era de terror. Marcela nunca havia presenciado uma troca de tiros. Nem Henrique. “Meu Deus só faltava o homem levar uma bala perdida justo aqui”, pensou, apavorada, enquanto se aproveitava do fato para abraçá-lo mais.

Após alguns minutos as portas foram reabertas e, aos poucos, os curiosos saíam para a rua. Pelos boatos que circulavam, houve uma tentativa de roubo de carro e um policial fora de serviço viu e saiu disparando a esmo.

Nesse meio tempo, Bia surgiu. Estava no banheiro.

- Eu estava entrando no banheiro, ouvi o tiro e vi que o povo começou a correr pra dentro do bar. Tranquei a porta e fiz xixi normalmente, imagina se alguém quisesse passar na minha frente?

Após o susto, todos pagaram a conta e saíram do bar.

Marcela lembrou novamente do assalto que enfrentou quando estava acompanhada de um rapaz. Poderia estar predestinada a atos de adrenalina extrema envolvendo possíveis romances. Poderia ser um sinal de intervenção, um claro impedimento para a história corrente.

“Meu deus eu tô ficando louca pensando nessas coisas”, falou a si mesma.

Diante das circunstâncias, o jeito foi se dividirem em táxis para irem embora. Marcela se despediu de Henrique com um beijo, e mesmo ainda trêmula pelo ocorrido, não pôde deixar de pensar:

“Meu Deus, mais um dia sem trepar com este homem!”

***

O dia amanheceu e Tina continuava na mesma posição da noite anterior. Estava parcialmente deitada, com o corpo recostado na cabeceira da cama. Rafael dormia profundamente, com a cabeça apoiada nas pernas de Tina.

Havia pensado muitas coisas durante a madrugada, e no momento a única coisa que queria era um relaxante muscular para aplacar a dor de suas costas.

Entre um pensamento e outro, Tina teve um flashback.

Trilha do flashback de Tina: https://www.youtube.com/watch?v=KrZHPOeOxQQ
Novamente se viu na época de escola.

Um tanto desengonçada, vestindo calças muito largas, penduricalhos e o cabelo preso apenas para um dos lados, caminhava no pátio da escola quando viu Rafael.

Ele estava sentado comendo um saco inteiro de Milhopã, quando alguém para quem ele havia emprestado um LP do Bom Jovi há muito tempo se aproximou.

- Oi Rafael, vim devolver o seu LP.

- Depois de tanto tempo? Olha aqui, tá até amassado nos cantinhos! Sabe o que você faz com esse disco? Enfia no seu cu!

Tina olhava aquela cena estupefata. Até então Rafael era o seu modelo masculino, o homem com quem planejaria casar e ter filhos um dia.

Mas não podia conceber tamanha grosseria.

Tina voltou do flashback.

Estando ali naquela cama, com Rafael dormindo em seu colo, teve a sensação de morte de que, se um dia ficasse grávida, Rafael iria tratar seu filho como aquele LP amarrotado.

De repente, sentiu medo de que o fato de estar ali não significasse que fossem viver juntos pra sempre como antes imaginava.

Nada poderia ser como antes. Nem ela mesma.

E percebeu que o grande problema era ela ter fantasiado algo que descobriu ainda na juventude. Rafael estava longe de ser o homem que gostaria.

“E se eu o amar mesmo com defeitos?”, pensou, tentando racionalizar.

Mas tudo o que conseguia concluir era que o Rafael que amava ficou lá na juventude, preso entre aquelas paredes que dividiam as salas de aula do pátio de esportes. Somente ela cruzou o portão de saída, somente ela deixou de ser a Tina com aparelho nos dentes e calças bag.

Naquela manhã após a noite de recaída, Tina questionou a si mesma se queria viver para sempre dentro das salas de aula da escola ou em qualquer lugar do mundo que tivesse vontade.

Sua vida parecia um LP em duas rotações por minuto.

***


Marcela novamente foi almoçar com Henrique. Era o penúltimo dia juntos.

Foram comer qualquer porcaria gordurosa para depois fazer mais uns passeios pela cidade.  Quando ela entrou no hotelzinho pintado de amarelo Henrique segurava uma pequena sacola.

- É um presente para você.

Marcela abriu e havia dois pacotinhos de seu doce favorito, mais uma garrafa de bebida artesanal.

Seus olhinhos brilharam, logo cedendo espaço para a vergonha, pois não havia comprado nada de presente para Henrique.

Marcela entendeu que aquela era a deixa perfeita para colocar em pauta o assunto sexo. Não seria atirada por falar, apenas entraria no clima de intimidade extrema que já existia entre os dois.


O abraçou como agradecimento pelo presente, respirou fundo, olhou nos seus olhos e entreabriu a boca para, finalmente, falar o que queria fazer. 

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