Trilha inicial: https://www.youtube.com/watch?v=4xW2taEoH6s
Marcela e Roni acordaram quase na tarde de
domingo.
Foi um amanhecer em várias etapas. Acordou
diversas vezes, e dormiu diversas vezes. Sempre abraçada em Roni.
“Já nem lembrava mais o que era acordar sob
um mínimo de ternura”, pensou.
Nem tiveram tempo de nada. Roni levantou,
tomou um banho correndo e arrumou as coisas para fazer o check-out. Embarcava
na rodoviária pouco depois do meio dia.
Antes ele desculpou-se por ter adormecido e
feito eles perderem a festa.
- Eu acordei no meio da madrugada, mas você
estava dormindo. Na TV passava o Corujão. Desliguei e voltei a dormir.
Disse ele, meio sem jeito.
- Não tem problema, eu não estava muito
afim de ir em festa. Só lamentei não termos feito outras coisas haha.
Marcela se ajeitou e foram embora.
O caminho até a rodoviária pôde ser feito a
pé. Durante o trajeto falaram pouco, como se na intimidade que haviam ganho
tivesse ficado cochilando na cama desfeita. Talvez a arrumadeira a acordasse em
tempo de conversarem mais um pouco.
Mas ela não chegou.
Roni acompanhou Marcela até o metrô, que
ficava pertinho.
- Bom, é isso então. Adorei a noite. Espero
voltar em breve.
- Eu também gostei muito. E volte sim.
Não teve beijo. Teve um abraço cordial,
como se Marcela fosse aquelas amigas que vão em casa vender cosméticos. Um
abraço por educação. Um abraço apressando a despedida.
Desceu as escadinhas da estação do metrô
com uma sensação de vazio. Enquanto passava pelas catracas, a intimidade entrou
na estação. Mas era tarde. Roni já havia se direcionado para o embarque, e
Marcela estava próxima da plataforma. E a intimidade não tinha dinheiro para a
passagem.
***
Marcela chegou em casa sob um efeito de
ressaca, mas não era da bebida. Era uma ressaca afetiva. O dia anterior, e até
mesmo a noite, haviam provocado uma mistura de sensações tão grande que lhe
provocou vertigens e dor de cabeça.
- Que cara é essa?
Perguntou Bia.
Sua cara estava dividida ao meio. Como se
fosse um doce io-iô crem. Num lado, a alegria de ter reencontrado Roni
representava o chocolate branco; no outro, a preocupação por aquela despedida
burocrática representava o chocolate preto. Chocolate preto deveria ser sempre
melhor, pensou, mas combinava mais com sua inquietação. Ao menos era da cor das
olheiras que estampava no rosto.
Marcela contou sobre a noite e sobre a
despedida. Confessou ter ficado aflita, mas ao mesmo tempo se achando ridícula,
pois mal se conheciam.
- Amiga, não se ache ridícula. Ficar
chateada com uma situação dessas não significa que você se apaixonou loucamente
por um desconhecido, apenas que gostaria de uma forma diferente de terminar a
noite.
Concordou em silêncio e foi para o quarto.
Enquanto Bia combinava um date qualquer, tentou
dormir mais um pouco. Precisava recolocar as sensações em ordem. Talvez
dormindo e acordando novamente reorganizasse o próprio corpo, como se apertasse
no reset do seu organismo.
Tem vezes que as pessoas se parecem com um
computador travado. Tudo o que precisam é reiniciar. Nem que fosse por meio de
algumas horas de sono.
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